domingo, 3 de junio de 2012

Filipa Leal

Poesía nómada: OPORTO, Filipa Leal

Douro

Não sei se prefiro o rio
ou o seu reflexo nas janelas espelhadas.

De um lado
os barcos ancorados, do outro lado:
barcos — na imediata memória das âncoras.
Deste lado, o porto, ou o cais,
contracenando com a sua própria inexistência
daquele lado.

Existirá aquele rio nos espelhos?
Poderá este subsistir sem as janelas?

Sou dourada como os peixes que te
desabitaram. E, do outro lado, sou
desabitada.

                          Filipa Leal
Talvez os Lírios Compreendam, Porto: Cadernos do Campo Alegre / 8, 2004

POR UMA LUZ REAL
A rapariga debaixo da luz verde
da árvore
parecia usar a máscara disforme
dos pesadelos.
Era uma imagem nítida,
quase branca.
Fumava.
Olhava-me para dentro do medo
sem rosto
debruçada, lenta, circular.
Era noite.
Eu estava na rua à tua espera.
Na rua não, no carro.
Eu estava no carro de vidros abertos
de olhos abertos
debruçada.
Mas felizmente tu chegaste
com a tua luz real (tão real)
para me interromper o pesadelo.

Filipa de Mira Godinho Grego Leal (Porto 1979) é uma escritora portuguesa
Formou-se em na Universidade de Westminster, em Londres, e concluiu o mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros na Faculdade de Letras de Porto, com uma dissertação sobre "Aspectos do cómico na poesia de Alexandre O'Neill, Adília Lopes e Jorge de Sousa Braga".
Jornalista cultural, fez uma breve passagem pela rádio (Rádio Nova - PÚBLICO) e foi editora do suplemento «Das Artes, Das Letras» do jornal O Primeiro de Janeiro. Actualmente, integra a equipa do programa Câmara Clara, da RTP2. Tem colaborações dispersas em vários jornais e revistas (EXPRESSO, Egoísta, MeaLibra, Os Meus Livros, Colóquio-Letras, entre outros).
Depois de um ano de formação no Balleteatro do Porto, começou a participar, em 2003, em espectáculos de poesia no Teatro do Campo Alegre, ciclo Quintas de Leitura, onde se formou o colectivo Caixa Geral de Despojos, do qual faz parte. Tem feito leituras de poesia em diversos locais do país (Centro Cultural de Belém, Fundação Eugénio de Andrade, Biblioteca Almeida Garrett, Casa das Artes de Famalicão, Casa Fernando Pessoa, Palácio de Belém, entre outros), e participado em vários encontros internacionais de escritores, nomeadamente na Galiza, em Pisa, Zagreb e Bristol. Alguns dos seus poemas foram já traduzidos para espanhol, croata, turco e búlgaro. Está representada em diversas antologias, em Portugal e no estrangeiro, e o Bando dos Gambozinos musicou um dos seus poemas, agora disponível no álbum «Com Quatro Pedras na Mão». Integra, desde 2004, os Seminários de Tradução Colectiva de Poesia Viva da Fundação da Casa de Mateus.
Em 2007, o jornal EXPRESSO colocou-a entre as 27 novas promessas portuguesas.



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