viernes, 29 de mayo de 2009

POEMAS & POETAS: Ana Paula Inácio - Poemas

Ana Paula Inácio

Prossegue a camioneta

nesta irregularidade de vago

ocupado logo o da frente

com o velho cabeceando

seguindo-se os três miúdos

feios e tossicando a amargura

de casa trazem as roupas coçadas

as sombras das priscas

que o pai consome

até ao tutano a maçã roída

da rapariga do grupo

a única que ri com os brincos

de prata a tez e macilenta

a face por onde caem os olhos

e se depositam o dos rapazes




Ana Paula Inácio

POEMA FEMININO

vim para a cidade servir
servir o amor
e não uma feijoada fria
mas menina e moça
temerária
afastei-me das palavras sábias da avó
que não me desaconselhavam nem a floresta, nem os lobos
mas a cidade e os homens
e na cesta acumulou a dissimulação
que eu utilizaria como uma capa
mas enchi a cesta de morangos silvestres
queria servir com as palavras claras
do tempo dos reis e das princesas
mas o homem a quem amei
com as palavras, os cozinhados, o sexo
achou-os pesados, indigestos
como aquelas que encheram a barriga do lobo
da história que me tem servido de atalho
ai avozinha sempre deveria ter usado a capa
o homem sente a serva como rainha
e as palavras balas certeiras contra a caixa torácica.
Novidades, novidades, é que não há caçador.



Ana Paula Inácio

 

Ana Paula Inacio Ana Paula Inácio nasceu no Porto, em 1966.

Publicou:

Poesia:

- As Vinhas de Meu Pai (Quasi, 2000)

-  Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas, 2000)

Contos:

- Os Invisíveis (Quasi, 2002).

Está representada nas antologias Anos 90 e Agora (Jorge Reis-Sá, Quasi, 2001) e Poetas Sem Qualidades (Manuel de Freitas, Averno, 2002).

Vive nos Açores, onde ensina Filosofia




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