martes, 12 de mayo de 2020

Iberia, Iberia, a nosa nai



Um poema inédito de Fernando Pessoa
(descoberto, fixado e comentado por Teresa Rita Lopes)




De leste a oeste comandámos,
Onde o sal vai, pisámos nós.
Ao luar de ignotos fi ns buscámos
A glória, inéditos e sós.
Hoje a derrota é a nossa vida
Doença o nosso sono brando.
Para quando é a nova lida,
Ó mãe Ibéria, para quando?
Dois povos vêm da mesma raça
Da mãe comum dois fi lhos nados,
Hispanha, glória, orgulho e graça,
Portugal, a saudade e as espada,
Mas hoje... clama no ermo insulso
Quem fomos por quem somos, chamando.
Para quando é o novo impulso
Ó mãe Ibéria, para quando?



Miguel Torga

Ibéria

Terra.
Quanto a palavra der, e nada mais.
Só assim a resume
Quem a contempla do mais alto cume,
Carregada de sol e de pinhais.
Terra-tumor-de-angústia de saber
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar...
Uma antena da Europa a receber
A voz do longe que lhe quer falar...
Terra de pão e vinho
( A fome e a sede só virão depois,
Quando a espuma salgada for caminho
Onde um caminha desdobrado em dois).
Terra nua e tamanha
Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo...
Que nela cabem Portugal e Espanha
E a loucura com asas do seu Povo.

Poemas Ibéricos, 1952-1965

No hay comentarios:

Publicar un comentario